sábado, 31 de dezembro de 2011

Vaga-Lume



Música Gil Guimarães, foi vencedora do "VI Festival da canção Calmonense da Nova Geração" (2010), Tamires também levou o prêmio de melhor intérprete.

O Trem das Horas










Música de Gil Guimarães interpretada por Tamires Alves na ocasião do "VII Festival da Canção da Calmonense da Nova Geração" no dia 25 de dezembro de 2011.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

NA ESCOLA DA VIDA

NA ESCOLA DA VIDA
(MEMORIAL DE LEITURAS)


Creio, e penso que estou amparado pelos especialistas, que o ambiente cultural vivenciado na infância é determinante na formação leitora dos indivíduos. Neste sentido, digamos que não fui um privilegiado, já que na minha infância eu podia visualizar muito mais facilmente ao meu redor uma enxada ou uma foice do que um livro ou uma caneta.
Passei a minha infância inteira no povoado de Mulungu, Miguel Calmon, Bahia. Em parte, este fato não contribuiu muito para que tomasse contato logo cedo com a leitura. Verdade é que havia uma escola ali e que passei a freqüentá-la quando completei sete anos. Lembro-me nitidamente daqueles primeiros dias de aula, minha memória registraria para sempre a experiência daqueles dias traumáticos.
A minha primeira professora despertava-me mais medo do que personagens de filmes de terror. Era-me penoso cobrir os traços das primeiras letras, ainda posso sentir o cheiro da borrachinha branca que usava a todo momento. A professora, sempre acompanhada de uma palmatória à mão, tal como uma soldado da época da ditadura não desapartava do seu instrumento de tortura. Muitas vezes chorei sem motivo aparente, sentia-me acuado e ameaçado naquele ambiente escolar.
Alegrava-me quando finalmente a aula acabava e podia ir para casa, brincar de fazer curral ou bater uma pelada com bolinha feita de meias. De fato, Vygotsky afirma que

"A brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos." (Vygotsky, 1984, p. 102)

Ler, escrever, estudar não deviam ser coisas boas. Só uma gente enraivecida e ruidosa poderia ter inventado algo tão maçante para poder torturar crianças medrosas como eu.
E assim, fui crescendo, mais afeito as coisas da caatinga, do que ao mundo das letras. Gostava mesmo era de cheiro de gado, de curral de manhã cedo, de leite saboreado no peito da vaca, da aventura de disparar um cavalo que eu na minha fragilidade de menino não teria forças para parar, adorava sair com o bodoque para caçar passarinhos, montar em bezerros e outras aventuras que aquele cenário nordestino me permitia imaginar.
Todavia, aos Treze anos meu pai interrompeu minhas aventuras campestres e me mandou para a cidade com as minhas duas irmãs a fim de estudarmos. Meu pai tinha uma visão diferente da maioria dos seus conterrâneos, para ele era um sonho ver seus filhos “formados”. Não gostava de escola, mas achei interessante a possibilidade de conhecer outros ares. Estudei no Colégio Polivalente de Miguel Calmon. Era um lindo colégio, um verdadeiro sonho e também um universo totalmente oposto ao que estava acostumado. Foram quatro anos ali, mas não o suficiente ainda para me despertar gosto pelo estudo e pela leitura, estudava o suficiente para “passar”, e contava os anos para terminar o 2° grau, queria mesmo era ver-me finalmente livre de escola.
No ensino médio essa história começou a mudar. Neste período já estudava no Colégio Estadual Nossa Senhora da Conceição. Ali conheceria uma pessoa que influenciaria de forma decisiva na minha formação: Renilton Gomes Silva, professor de história, cristão e muito comunicativo e inteligente que cumpriria em minha vida a missão do educador, segundo preconiza Piajet:

"A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe." (Piaget, 1977, p. 1).

Desenvolvi uma profunda amizade com ele, uma amizade que transcendia os muros da sala de aula. Renilton era um homem muito culto e me falava sempre da importância da leitura, emprestou-me livros, havia em sua casa uma biblioteca dotada de considerável acervo, aquele se tornaria meu lugar predileto sempre que visitava a casa do amigo professor. Comprazia-me ficar olhando os títulos, as capas, abrindo um livro e descobrindo um poema, um texto filosófico, que evidentemente ainda não entendia, mas comecei a gostar de pegar nos livros, de senti-los, de estar perto deles.
No 2° ano do Ensino médio um fato viria contribuir para que eu me aproximasse definitivamente dos livros. Descobri a literatura! Ao estudar o Arcadismo, lendo poemas que falavam da simplicidade da vida no campo, da paz e do equilíbrio interior que a natureza e os animais proporcionam ao homem, constatei que eu poderia ter escrito aqueles poemas, que havia neles algo de mim. Daí desenvolvi o gosto por ler poemas, lia-os cada vez mais, era um prazer descobrir um novo poeta. Ganhei um livro de literatura de minha irmã mais velha, lia-o vorazmente. Não demorou para que eu arriscasse os primeiros versos, escritos não sem “roubar” muita coisa que eu lia em outros poetas. Com os anos descobriria que todo bom escritor não passa de um “bom ladrão” de idéias.
Nesta época, ler, apenas, já não me bastava, sentia a necessidade incontrolável de me expressar, de escrever a minha própria história. E para escrever eu precisava ler os outros, e cada vez eu lia mais... Descobri os clássicos nesta época: Machado de Assis, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Aloísio Azevedo, Mark Twain, Lewis Carroll, Júlio Verne, Eça de Queiroz, Charles Dickens entre outros... Mas os meus preferidos eram os poetas... Gregório de Matos, Tomás Antônio Gonzaga, Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias, Castro Alves, Olavo Bilac, Manuel Bandeira, os Andrades, Drummond, gostava de poesia de todos os temas e estilos, cada poeta descoberto era uma espécie de tesouro que eu encontrava e guardava num terreno secreto.
A esta altura da vida, a leitura já fazia parte da minha rotina. Lia no trabalho, em casa, na rua e era assíduo freqüentador de bibliotecas, onde gastava algumas tardes livres.
Não sabia, entretanto, que a leitura me traria alguns problemas. Fora um prazer indescritível descobrir os filósofos antigos, Sócrates, Platão e Aristóteles. Aqueles diálogos maravilhosos me transportavam para o fantástico mundo das idéias, o qual estranhamente eu tinha a sensação de já conhecer. Era incrível como às vezes tinha a sensação de que Sócrates e Platão tinham copiado minhas idéias. Mas não podia ser, pois eles me precederam. Então só podíamos ser, no mínimo, parecidos no modo de pensar, não obstante o tempo, e a cultura que nos separavam. Isso me dava uma sensação de certa intimidade com esses autores e eu os considerava amigos que não conheci. Sentia-me honrado e orgulhoso de ser amigo de Sócrates, Platão e Aristóteles...
Mas eu havia falado que a leitura trouxe-me problemas. Com o tempo fui conhecendo outros amigos que pensavam bem diferente de mim e de tudo que me ensinaram os meus ancestrais. Estes amigos punham em cheque tudo que eu acreditava e dava como absoluto... Aí veio a minha crise, meus conflitos internos, para conciliar as verdades ensinadas com a força dos questionamentos de tudo que eu lia... Cheguei a duvidar de Deus e do sentido da vida, cheguei a parecer estranho para as pessoas, alguns até me advertiam para que não ficasse louco com aquela minha mania de ler tudo e questionar a tudo... Eu estava realmente estranho, sentia-me só e vazio, por mais que estivesse cercado de pessoas... E no fundo eu sabia que a leitura era a culpada de tudo aquilo...
Foi necessário me perder para me achar. Alguns anos depois, lendo a bíblia aprenderia uma forma de conciliar todas as idéias em uma só, daí por diante as perguntas não me abalavam mais... Não é que eu tivesse todas as respostas, as respostas ninguém as teria nunca. Quando aprendi isso passei a viver mais tranqüilo comigo mesmo, com Deus e com o meu próximo. As leituras de poesia ajudaram-me neste processo de conviver com o mistério. Hoje admiro o desconhecido e não me apresso em desvendar os enigmas da vida. Contemplar o mistério é uma atividade que me fascina.
Quando conclui o ensino médio, já não era aquele menino do Mulungu, embora ele sempre estivesse em mim. Eu era outro, era a soma de tudo que li, de todas as pessoas que conheci e com as quais conversei e de todas as experiências boas e más que tinha vivido até ali.
No colégio que estudava falava-se muito em vestibular, o próprio Renilton me estimulava bastante a prestar o exame ao que eu prontamente atendi.
Recordo-me que nunca fui aluno de estudar muito, confesso que sempre fui indisciplinado com horários. Porém era um aluno que lia, que tinha sensações diversas ao ler...
Por isso, não me preocupei em estudar para o programa do vestibular. Fui fazer a prova sem muita pretensão ou preocupação, pois não me sentia na obrigação de ser aprovado. No momento em que respondia a prova um filme foi passando na minha cabeça, todos aqueles livros que havia lido... Lembram daqueles amiguinhos?? Pois é, nossas conversas vinham à minha memória e eu as transformava em respostas.
Aguardei o resultado do exame com certa expectativa, já que havia uma promessa de que, se caso fosse aprovado, teria um emprego certo para mim.
Lembro bem do dia que recebi o resultado. Foi um dia muito feliz. Quem me deu a notícia? O professor Renilton, como não poderia deixar de ser. Ele estava muito feliz por mim, pois sabia que a minha vitória era, em certa medida, fruto do seu trabalho e persistência.
Ah, esqueci de dizer qual o curso que escolhera. Entretanto, creio que não será difícil para o leitor imaginar, pois as dicas já foram dadas acima. Lendo e saboreando tanta poesia, filosofia e literatura em geral, não podia ser outra a minha escolha senão o curso de letras vernáculas.
Quatro anos de faculdade, quatro anos de outras tantas leituras...
A faculdade talvez, tenha sido de todas as etapas da educação, a que mais me decepcionou. É seguramente o lugar onde se encontram os professores mais despreparados do Brasil, pelo menos do ponto de vista didático-pedagógico. Vi muitas vezes os professores dedicarem a maior parte de suas aulas a reclamarem do ensino básico porque não nos tinha ensinado como se faz um artigo científico ou uma resenha. Eles então concluiam que não lhes cabia a tarefa de nos ensinar.
Cheguei a triste conclusão pelo tempo que passei nas salas e nos corredores da universidade e pela prática de muitos professores com os quais convivi, que a razão deste contraditório despreparo pedagógico dos docentes universitários justifica-se pelas excentricidades pessoais e pelas “disputas de egos”. Em geral, são pessoas que não demonstram o mínimo de humildade e são indiferentes à prática de Paulo Freire:

“Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade”. (Freire. 1997, p.50)

Pensam que porque detém um diploma de mestrado ou doutorado ninguém pode lhes ensinar mais nada. Não se permitem aprender neste aspecto, são cegos pela arrogância intelectual, por isso são tão ruins na sua didática e traumatizam grande parte dos seus alunos. Conheci professores de um conhecimento monumental a cerca da sua disciplina, cujas aulas eram maçantes e sonolentas.
Fiquei muito feliz como já disse acima no dia em que soube que havia passado no vestibular. Entretanto, provei de maior felicidade ainda no dia em que finalmente vi o meu diploma nas mãos, pois ele representava um passaporte para longe daqueles muros habitados pela arrogância e pela vaidade dos homens, embora deva registrar que não obstante tudo isso tive momentos importantes para a minha formação pessoal naquele ambiente, proporcionados sobretudo pelas minha leituras individuais na biblioteca da instituição e pela convivência com muitos colegas e raros professores cujas idéias e senso de humanidade muito me acrescentaram vida a fora.
Ironicamente aquele menino do Mulungu tão avesso à escola e a professores tornou-se um professor que se dedica a fazer com que cegos vejam e os que veem tornem-se cegos, a fazer com que mudos falem e os que falam tornem-se mudos, a fazer com que mancos andem e os que andam tornem-se mancos, através do milagre sagrado e profano da leitura.

P.S Relendo a minha história escolar que é também a minha história de vida, recordo-me de um saudoso poeta mineiro e tal como ele acho a minha história mais bonita do que a de Robson Crusoé, a diferença é que eu sempre soube disso, mesmo quando corria atrás dos bezerros desgarrados pelas veredas da caatinga de Mulungu.
A vida é mesmo um mistério desafiador, às vezes ela nos ensina pelo avesso.

LUAR DO SERTÃO - ORQUESTRA CENSC DE VIOLÃO



A "Orquestra Censc de Violão" interpreta a música Luar do Sertão. Esta Orquestra é fruto das oficinas de músicas desenvolvidas no Colégio Estadual Nossa Senhora Da Conceição (CENSC) em Miguel Calmon sob a orientação do Professor Gilmar Guimarães

Sweet Child O Mine - Orquestra Cenc de Violão



A "Orquestra Censc de Violão" interpreta a música "Sweet Child O Mine". Esta Orquestra é fruto das oficinas de músicas desenvolvidas no Colégio Estadual Nossa Senhora Da Conceição (CENSC) em Miguel Calmon sob a orientação do Professor Gilmar Guimarães.